Os trágicos ataques terroristas cometidos em território norte-americano em setembro de 2001, utilizando como instrumento de destruição aeronaves comerciais, causaram grandes mudanças políticas e sócio-econômicas em todo o mundo, com reflexos que influenciam até
hoje muitos setores da economia brasileira. O senso comum indica que este evento aprofundou a crise pela qual o setor aéreo brasileiro vinha passando desde 1999, grande parte devido às oscilações do câmbio do dólar. Através de métodos quantitativos este artigo se propõe a demonstrar a real influência do 11 de Setembro e da taxa de câmbio, sobre a conta Viagens Internacionais, da balança de pagamentos internacionais brasileira, bem como do fluxo de passageiros de transporte aéreo com destino para outros países. Por fim, são discutidas as implicações acadêmicas e gerenciais destes resultados, bem como as limitações do trabalho e oportunidades de pesquisas futuras.
ANÄLISE DA INFLUENCIA DO 11 DE SETEMBRO E DA TAXA DE
CÄMBIO SOBRE O TRANSPORTE AEREO INTERNACIONAL
DE PASSAGEIROS NO BRASIL
Paulo de Jesus Mongores'[1]
RESUMO
Os tragicos ataques terroristas cometidos em territorio norte-americano em setembro de 2001, utilizando como instrumento de destruigäo aeronaves comerciais, causaram grandes mudangas politicas e socio-econömicas em todo o mundo, com reflexos que influenciam ate hoje muitos setores da economia brasileira. O senso comum indica que este evento aprofundou a crise pela qual o setor aereo brasileiro vinha passando desde 1999, grande parte devido as oscilagöes do cambio do dolar. Atraves de metodos quantitativos este artigo se propöe a demonstrar a real influencia do 11 de Setembro e da taxa de cambio, sobre a conta Viagens Internacionais, da balanga de pagamentos internacionais brasileira, bem como do fluxo de passageiros de transporte aereo com destino para outros paises. Por fim, säo discutidas as implicagöes academicas e gerenciais destes resultados, bem como as limitagöes do trabalho e oportunidades de pesquisas futuras.
Palavras-chave: aviagäo comercial, taxa de cambio, estudo de evento, analise de correlagäo, conta viagens internacionais.
1 INTRODUQÄO
As cenas registradas de aviöes comerciais sendo atirados contra as torres do World Trade Center certamente permanecerao na memoria de todos aqueles que as assistiram. E razoavel supor que aquelas imagens traumaticas contribulram em muito para um imediato efeito negativo para o setor aereo mundial: a redugäo do trafego. Depois de 11 de setembro, a ocupagäo dos aviöes desabou nos EUA, e as companhias reduziram os vöos entre 15% e 20%.
Contudo, no Brasil, antes mesmo do evento de setembro, a maioria das companhias aereas ja vinha enfrentando grandes prejulzos, e todo o setor estava, de qualquer forma, pronto para o desmonte da capacidade excessiva. Desde janeiro de 1999, epoca da desvalorizagäo do real e do fim da paridade da moeda em relagäo ao dolar, o antes intenso fluxo de brasileiros que sala do pals vem diminuindo dramaticamente (grafico 1). E todas as empresas de transporte aereo internacional de passageiros, cuja estrutura de custos e mais ou menos semelhante, possuem boa parte de suas despesas realizadas em dolar.
O objetivo deste artigo e identificar o nlvel de influencia dos eventos ocorridos em 11 de setembro e da taxa de cambio no fluxo internacional de passageiros da aviagäo comercial brasileira.
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GRAFICO 1 - TRAFEGO AEREO INTERNACIONAL NO BRASIL: PASSAGEIROS EMBARCADOS
FONTE: Folha de Sao Paulo, 13/11/2001. Caderno Mundo, p. A14
Portanto, este artigo se propöe a responder a seguinte pergunta: Qual a real influencia do 11 de Setembro e da taxa de cambio do dolar sobre o saldo mensal da conta de despesas em viagens internacionais e o fluxo de passageiros embarcados em aviöes comerciais para destinos fora do Brasil?
2 ANÄLISE TEÖRICO-EMPiRICA
2.1 CARACTERISTICAS DO SETOR DE AVIAQÄO COMERCIAL BRASILEIRO
O setor de aviagao comercial e caracterizado por subsldios governamentais (mais ou menos evidentes) na maioria dos palses, diferentes graus de protecionismo e caracterlsticas econömicas do negocio que geram vantagens competitivas para as grandes linhas aereas das principais economias do primeiro mundo.
Os nlveis de atividade do transporte aereo refletem diretamente a atividade econömica, tanto em escala local como global, e respondem de forma quase que imediata as flutuagöes clclicas das economias e as pollticas conjunturais. Em termos de analise interna do setor, em todo o mundo, a desregulamentagao e a liberalizagao do transporte aereo intensificaram dramaticamente a competitividade entre as empresas, tanto no ambito domestico como no internacional. Guerras tarifarias, concorrencia predatoria, fusöes e aquisigöes, ma gestao, falencias, abusos de posigao dominante, tentativas de conluio, entre outras, sao algumas imperfeigöes comuns nessa industria que, via de regra, tem contribuldo para que ela esteja entre as de menor margem de lucro. Este ambiente altamente dinamico e por vezes confuso, tem forgado as empresas a se submeterem a grandes e, por vezes, traumaticas reestruturagöes em busca de maior eficiencia operacional, de aumentos de produtividade e, principalmente, de redugöes consistentes de custos (SILVEIRA, 2003).
Os custos das companhias aereas sao dominados pelo seu componente fixo, que inclui, entre outros itens, gastos com capital imobilizado e aeronaves. As significativas despesas operacionais incluem: o uso de mao-de-obra altamente qualificada que impöe um elevado custo em remuneragöes e encargos sociais; aluguel de aeronaves (arrendamento); manutengao e revisao; e combustlveis (que chegaram a 107% em 2002 e representam aproximadamente 20% da despesa total). O cenario se torna ainda mais complexo face o fato de que 65% dos custos de uma companhia aerea, no Brasil, sao denominados em dolar.[2]
Alem das deficiencias crönicas nos marcos regulatorios, o setor tem uma carga tributaria superior em relagao aos outros palses, bem como um aparelho governamental de fiscalizagao e de regulagao mais pesado. No Brasil a carga chega a 37%, enquanto que na Europa e 16% e nos EUA permanece entre 7% e 8%.[3]
Outra caracterlstica do setor envolve as aquisigöes de aeronaves. Elas devem ser feitas por longos perlodos de tempo antes de sua entrega efetiva. Fato comum no transporte aereo e a compra de aeronaves em perlodos de crescimento da demanda e a entrega
CEO Round Table. Evento Latin Trade, Sao Paulo, 08/06/2004.
FONTE: Folha de Sao Paulo, 08/11/2001. Caderno Dinheiro, p. B6.
ocorre em fases de queda de atividade. Como a demanda por transporte aereo e altamente ciclica e dependente dos ciclos macroeconömicos, ajustar os surtos de demanda ao planejamento da capacidade numa perspectiva de medio-longo prazo e um dos maiores problemas de gestao de companhias aereas (SILVEIRA, 2003).
O cenario trapado explica, em certa medida, o cenario preocupante em termos de resultados do setor (grafico 2).
GRÄFICO 2 - RECEITA OPERACIONAL LIQUIDA E RESULTADO LIQUIDO DO SETOR AEREO BRASILEIRO, RESPECTIVAMENTE
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FONTE: Sindicato Nacional das Empresas Aeroviarias - http://www.snea.com.br/
Em 2002, assim como todos os outros setores da economia brasileira, as companhias aereas tiveram que enfrentar dificuldades pollticas e financeiras que geraram um clima de desconfianpa em todo o mundo, com acentuado incremento da aversao ao risco. Nos primeiros meses do ano, houve o confronto com as implicates do agravamento da crise Argentina e, depois, as incertezas sazonais tlpicas do Brasil, provocadas pelo processo eleitoral. Uma das conseqüencias mais graves desse quadro foi uma forte contrapao nos financiamentos externos que, por sua vez, gerou uma grande desvalorizapao nominal da taxa de cambio. Essa forte desvalorizapao da moeda, que chegou a alcanpar patamares de 70%, produziu aumento da inflapao e dos juros e uma expressiva retrapao no crescimento da economia.
2.2 OS ATENTADOS DE 11 DE SETEMBRO E AS VIAGENS INTERNACIONAIS
Apesar dos lamentaveis eventos de 11 de setembro terem afetado o turismo em todas as regiöes do mundo, ja se percebia antes um esfriamento do crescimento das viagens ao exterior de palses tradicionais como Alemanha, Japao e Estados Unidos.
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[1] Engenheiro Eletrotécnico pelo CEFET-PR, Administrador de Empresas (habilitado em Comércio Exterior) pela UFPR, Especialista em Marketing Empresarial pela UFPR, mestrando em Administração de Empresas pela PUC-PR e Professor da FARESC - Faculdades Integradas Santa Cruz de Curitiba.
[2] CEO Round Table. Evento Latin Trade, São Paulo, 08/06/2004.
[3] FONTE: Folha de São Paulo, 08/11/2001. Caderno Dinheiro, p. B6
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- Paulo Moncores (Author), 2005, Análise da influência do 11 de Setembro e da taxa de câmbio sobre o transporte aéreo internacional de passageiros no Brasil , Munich, GRIN Verlag, https://www.grin.com/document/158355