Existem diferenças entre a língua de cada geração. Os pais não falam a mesma língua dos filhos, tampouco a mesma língua de seus próprios pais. Algumas pessoas até mesmo se preocupam com o “declínio” da língua portuguesa1. Segundo suas percepções, os mais jovens não sabem falar português e a língua portuguesa está se deteriorando. Na verdade, a língua portuguesa não se torna a cada geração menos útil ou funcional. Essa sensação de “declínio” provém de um simples fato: as línguas mudam. As línguas naturais estão sujeitas à variação: não falamos do mesmo modo, por exemplo, em São Paulo, em Minas Gerais, no Rio Grande do Norte (variação diatópica). Há maneiras de falar mais formais e outras mais informais e populares (variação diastrática). Também não falamos do mesmo modo em uma palestra proferida na universidade e em uma conversa com amigos (variação diafásica). Estudar as mudanças lingüísticas do Português Brasileiro é também estudar a história dessas variações. Contudo, reside aí um problema: a língua é colocada em funcionamento por meio de textos e gêneros e existe uma ligação entre a variante lingüística utilizada e o texto que concretiza essa variante. Cada gênero textual privilegia a utilização de uma determinada variante lingüística e de determinadas formas lingüísticas. O que vale dizer: a história da língua está ligada à história dos textos e dos gêneros. É por meio dos gêneros textuais que fenômenos lingüísticos são criados, adotados, disseminados, suprimidos, apagados, reabilitados. Essa observação traz uma conseqüência metodológica relevante para a Lingüística Histórica: não se pode estudar a evolução de uma língua a partir de qualquer texto. [...]
Inhaltsverzeichnis (Sumário)
- Introdução: mudança da língua, mudança dos textos
- Pressupostos Teórico-Metodológicos
- Origens do Modelo de Tradições Discursivas: a Lingüística do Texto segundo Eugenio Coseriu
- Os níveis do lingüístico e a linguagem como atividade, conhecimento e produto
- Três tipos de Lingüística do Texto
- A autonomia do texto e as tradições textuais
- O Modelo de tradição discursiva
- O conceito de tradição discursiva
- TD entre repetição e evocação
- Gêneros textuais como famílias de texto
- Processos de formação de TD
- A queda das tradições culturais
- O contínuo de proximidade e distância comunicativas
- Variação lingüística
- Tradições discursivas e conhecimento partilhado: memória coletiva, memória cultural e memória comunicativa
- Descrição do corpus e da metodologia de análise
- Tradições discursivas e organização de um corpus diacrônico
- Corpus de jornais
- Extensão e organização do corpus
- Reconhecimento das famílias de textos
- Transcrição e digitação dos dados
- Critérios de análise
- Dêixis
- A dimensão junção segundo Raible (1992)
Zielsetzung und Themenschwerpunkte (Objetivos e Temas Principais)
Este estudo visa analisar a evolução dos gêneros textuais em jornais paulistas de 1854 a 1901, mostrando como diferentes gêneros surgem, desaparecem e/ou se modificam. O objetivo é apresentar um quadro global da evolução lingüistico-textual dos gêneros que ocorrem nestes jornais, revelando como determinados gêneros textuais que ocorrem no jornal surgem, desaparecem e/ou se modificam. A pesquisa se baseia no modelo de Tradições Discursivas, proposto por Peter Koch, que busca compreender a relação entre a história da língua e a história dos textos.Alguns dos temas centrais da pesquisa incluem:
- A influência da carta do correspondente na constituição dos gêneros textuais jornalísticos
- A evolução da notícia de jornal e a presença de diferentes variantes
- O papel do anúncio publicitário e as transformações que este gênero sofreu ao longo do século XIX
- A carta do leitor como espaço de manifestação opinativa e de debate
- A intersecção dos universos discursivos do Direito, do Jornalismo e da Publicidade
Zusammenfassung der Kapitel (Sumário dos Capítulos)
- Introdução: mudança da língua, mudança dos textos: O capítulo introduz a temática da pesquisa e apresenta a questão da mudança lingüística na história dos textos, mostrando a importância de estudar a história da língua em conexão com a história dos gêneros textuais.
- Pressupostos Teórico-Metodológicos: Este capítulo explora as bases teóricas da pesquisa, focando em conceitos da lingüística textual, principalmente o modelo de Tradições Discursivas de Peter Koch. O capítulo apresenta os três níveis lingüísticos de Eugenio Coseriu e a importância da distinção entre linguagem como atividade, conhecimento e produto.
- Descrição do corpus e da metodologia de análise: O capítulo descreve o corpus de jornais paulistas analisados (Correio Paulistano e A Província de São Paulo) e explica os critérios utilizados para a análise dos dados. Entre os métodos utilizados, estão a análise da dêixis, a dimensão junção proposta por Wolfgang Raible e a identificação de atos de fala típicos de cada gênero textual.
- Análise do corpus: Este capítulo apresenta a análise dos gêneros textuais notícia, anúncio publicitário e carta do leitor em cada corte diacrônico, mostrando a evolução de cada um destes gêneros e os principais aspectos lingüísticos que os caracterizam. O capítulo analisa a influência da carta do correspondente, o uso de pretéritos perfeito e imperfeito, a pessoalização e impessoalização do texto, bem como a presença de diferentes topoi argumentativos nos anúncios publicitários.
Schlüsselwörter (Palavras-chave)
A pesquisa aborda temas como a história dos gêneros textuais, tradições discursivas, mudança lingüística, história do português brasileiro, jornais paulistas, notícias, anúncios publicitários, cartas do leitor, linguagem jurídica, linguagem jornalística, linguagem publicitária, universos discursivos, proximidade e distância comunicativas. A pesquisa também se debruça sobre a análise de corpus diacrônico, a aplicação do Modelo de Tradições Discursivas e a análise de diferentes aspectos lingüísticos, tais como a dêixis, a junção e os atos de fala.- Quote paper
- Alessandra Castilho da Costa (Author), 2010, Tradições discursivas em jornais paulistas de 1854 a 1901: Gêneros entre a história da língua e a história dos textos, Munich, GRIN Verlag, https://www.grin.com/document/167293